segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Catherine Wheel

Unclean.
Do topo do morro, à distância de sete diâmetros, desembaraçou-se a besta das mãos do carrasco e fez tremer a terra sob os teus membros presos, na distenção máxima dos músculos. Os seus dentes cravaram-se na terra negra, um após o outro, num encurtar de distância lento e surdo, num crescendo de trovões anunciando os teus ossos estilhaçados.
Há muito que o teu corpo se fez jaula em vez de templo e foi chegado o momento de levantar âncora, de libertar-te das amarras dos tendões.
Sete diâmetros cumpridos e o teu grito último definhou rouco num manto de terror.
Jaz agora sobre a roda, o sudário descarnado, oco, do que foste.

3 comentários:

Fata Morgana disse...

Vitrúvio, Leonardo e Catarina.

A arquitectura da longevidade, utilidade e beleza; as várias "artes e manhas" do "Homem da Renascença"; e os mistérios da santidade.

Tudo junto na ilustração deste texto que fala de tortura. "A Roda de Catarina" - nunca tinha visto esta expressão, mas é justa. A roda guarda o nome de quem a venceu.

Mas pergunto-me - embora aplauda! - porque juntou as rodas. Queria saber os seus motivos.


(Um dos caminhos que partem de Gore vem ter aqui :)

Gotik Raal disse...

Morgana, não sei o que me pareçe um "você" vindo da própria Morgana La Folle..!
Obrigado pelo caminho de Gore e, se reparaste. fechou-se o círculo.
Quanto às "rodas" tiveste um bom golpe de vista (olhos de águia em asa de corvo) ou de instinto. Tenho usado quer os títulos quer as imagens nos meus textos (alguns) de uma forma mais complementar do que ilustrativa. Mas nessa em particular houve uma certa "intenção": a verdade é que apesar de toda a monumentalidade e genialidade da obra do Leonardo esta causa-me por vezes vezes um certo fastio, o excesso de ambiguidade. Há obras que provocam uma comoção quase tão forte como a Roda de Catarina, mas não consigo sentir isso com ele. Sobrepor as duas rodas foi uma forma pessoal de "provocar" esse confronto.
Obrigado pela visita, e espero que queiras regressar à Katedraal!

Fata Morgana disse...

Tens razão, esqueci-me.

Não foi golpe de vista. É que eu também sinto esse fastio - é mais embirração - relativamente ao Leonardo (também pode ser por causa de tudo o que dizem os que se acham seus "donos", e não propriamente por ele). E gosto muito de Santa Catarina e da história da roda partida. Por isso todo o post me agarrou.

Sim, vou querer regressar à Katedraal.