quinta-feira, 24 de junho de 2010

kULTURA




O tempo é pequeno, distraído.

"Pois que passe depressa e acabe, logo que se cumpra a função. Não tenho tempo."

Nex Molior.

"Espelho meu, espelho meu, existe alguém mais, do que eu?
Estou cheio de idéias, mas não quero muitas letras; que sejam poucas - pois que explicações são para quem nada percebe."

É tudo pequeno, e mesmo o que demora não permanece.

"Mas é muito divertido."

*

Tempos fétidos estes, em que nada cheira.
Essências, sal e pedra, há muito que abandonaram estas terras na barca da memória.

sábado, 19 de junho de 2010

O Fim

E eis que me sinto adormecer neste corpo que definha. O que escolher? A mente outrora ágil correndo como um rato - naquele fim de tarde pardo em que todo o meu músculo era supérfluo; ou antes esta dormência, entorpecido, da noite negra e cálida a meio de todos os demónios?
O eterno dilema: definhar na competência ou florescer, viçoso, entre a modorra dos sentidos.
Olho, e tudo se move à minha volta; e no entanto, estando sozinho, sou mais do que aguento ser capaz.
A solidão é tudo o resto.
O silêncio.
O meu maior desejo.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A Calma



E se no teu mundo se desse um grande estrondo, e tudo no teu ser se estilhaçasse. Restaria apenas aquilo em que fosses íntegro, ou nada. De qualquer forma uma rebentação maior do que as muralhas mais inexpugnáveis. Imagina que te afirmavas nesse instante; como um ser terrível, indomável, doce e meigo, cruel para além das lágrimas, e tudo em ti eram palavras surdas. Mossa e impacto. Mas sabias que nesse mundo habitavas apenas tu, fora de ti próprio.

No meu cérebro esmago-te como folhas secas.

Pudesses visitar-me neste plano e fugirias seco de terror. Sim, já que estás ébrio do som da tua voz vazia, das tuas lágrimas sem sal, do teu sorriso em arco que se abre para o nada. Tu és tudo o resto e dessa forma és coisa nenhuma.
Eu sou apenas único, esta impotência.

E no entanto estou vivo e isto é tão somente uma pústula ridícula no meu rosto. Sabes, a minha pele é grossa como os séculos.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A Foice



Desenhei um círculo perfeito e cortei sete caules de homem. Depois, retirei-me para a minha ínfima cela; o menor dos cantos negros do meu castelo. "Será isto, o pousio?"
Ardia uma vela e cedo se me acabou o ar. Estendi a mão e peguei na foice - o seu cabo ainda cálido, e
saí para o ar gelado da noite. Ou talvez fosse dia. Como nas trevas o sol não vinga - tanto me faz - é apenas tempo.
Então, desenhei um círculo perfeito e cortei sete caules de homem.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Jugulator


Não me despertas o interesse. Menos ainda recordo quem dizes ter sido, ou quem julgas que serás - se não souberes o que é a fé, acreditar, ou simplesmente a pura vontade incontrolável.
Indica-me a jugular do mundo,
e eu corto-a.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

As Flores



A pele como uma pálpebra.
Acordei. Uma estrumeira. Tudo eram detritos inertes no meu círculo próximo; e assim o eram os restos dos dois lagartos que cegos de morte velavam o meu sono.
Tentei lembrar o verde, mas tal como o azul dos céus também este se fora.
Aspirei o vento, sem nada encontrar dos meus caminhos. E pela primeira vez na vida olhei para trás, numa réstia de desejo de te ver. Estarias no cimo da torre mais alta da catedral; se estivesses. Se os meus olhos tudo isso pudessem alcançar.

De nada me importa a lama, os os rios fumegantes de dejectos, conquanto se dirijam a algum lado.
Tanto nos queixámos e contudo não há como esta paz em que todas as riquezas e misérias não cabem nas palavras.
Mas deixa-me dizer-te que mesmo uma fossa é plena da vida que no ouro nunca vinga.
Morre por isso em paz - eu serei no teu lugar. Mesmo que me arranquem os braços e o coração jamais serei outro qualquer, ou nada.
Sempre eu e tu, ainda que não te veja mais.

As flores nascem em toda a parte, em qualquer sítio. Desde que seja delas o tempo.