Deslizam sob as pontas dos dedos gelados mas secos como papel, as contas do ábaco. O seu som confunde-se com o das justas distantes. Mas infinitamente mais letal, como os pregos do maço, as setas da besta ou os vapores do inferno, repousa o ábaco entre as madeiras dos longos tampos da mesa e das traves do tecto, no silêncio de veludo dos salões.
E, contudo, são tempos de certa justiça: do cálculo pendem cabeças e destinos, de camponeses, usurários, reis e clero.
E na falha deste sobra sempre a mão cortada do amanuense.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Desculpa Gotik, mas para te comentar tenho de dizer coisas que ficam muito pirosas neste ambiente austero, de pedra e palavras certeiras.
Mas o que escreveste fez-me lembrar aqueles doidos que ficam com cinco telefones pendurados nas orelhas, de olhos postos em vários monitores, a fazer estranhíssimos sinais não sei para quem, na... Bolsa (Pardon!)
Mas fazem-se contas, o meio é certamente do mais letal que pode haver, e também rolam cabeças!
Não entendi, neste contexto que vejo, a mão cortada do amanuense. Por mais voltas que dê, não sei o que dizer - ou sequer achar - do amanuense.
Mas lá que parece mesmo que estás a falar "dela", isso parece!
Se por acaso trabalhares em algo próximo ou relacionado, desculpa o cinismo com que disto falo. Mas é um mundo de que não gosto nada e as poucas boas pessoas que conheço a ele ligadas, dizem-no a verdadeira prostituta da babilónia! Por isso foi do que me lembrei logo, assim que li "(...)letal, como os pregos do maço, as setas da besta ou os vapores do inferno,(...)" estando-se a falar de contas. A usura lembra a especulação, também.
Não sei, desculpa se estraguei o teu texto todo com este comentário que, ainda por cima, é enorme :(
(não te importas se te chamar só Gotik, que é muito mais fácil?)
(não sei o que é Raal. Ou, por um acaso, falta uma letra?)
:)))
Encore une fois, pardon!
Olá Morgana,
Agradeço-te bem as visitas e "justas" pioneiras. Não te assustaste com as paredes húmidas e austeras - soube-me bem ler isso em Gore, confesso - e com todo este espaço ainda vazio.
Quanto a "Raal" pode faltar uma letra, mas sabes que não escolhemos os nossos nomes - antes estes escolhem-nos, a nós. E talvez nem falte. Procura-a em todo o meu nome e diz-me se a vês. "Catedral" também está, um pouco, no nome - e sem saber bem porquê vejo-a como Mãe destes pergaminhos.
Quanto às outras palavras estranhas que usaste em referência ao Ábaco, sei pouco sobre elas. Mas dir-te-ei que a palavra "Crise" que empesta os dias de que falas - e essa sim, reconheço - esteve, entre outras coisas, na origem do "Ábaco" - tal e qual como o escreveste(!)
Dizem-me os oráculos que dias virão, dominados por gente mesquinha e impunidades, em que a a ignorância e a corbardia agirão de conluio para reduzir a pó tudo e todos que, ainda de leve, ameaçem essa primazia; tempos em que no fim de contas jamais será feita justiça. Acho isso triste, sabes. Por contraste, neste meu tempo de peste há um apetite insaciável por cabeças cortadas, o que não sendo totalmente justo tem o dom de a todos lembrar que, perante a lâmina, os nossos pescoços não são assim tão diferentes. Podes-lhe chamar terror, mas liberta o melhor e o pior de todos - o que é sempre melhor que pequenez.
O amanuense aqui é o arauto, o intermediário, o que transporta a notícia. Ninguém sobra impune.
Beijo!
G.Raal
Enviar um comentário