terça-feira, 11 de agosto de 2009

Voragem



Eu sou a lua do meu sol
vogando eternamente
o breu
em torno do meu ser.

Aqui
onde me encontro é sempre noite;
lá onde sou eu
não é o dia,
é tudo a arder.

Eu sou o mar e a caravela
que resiste ao remoinho,
morte certa.
Mas resistindo eternamente,
Eu sou o poço e a espiral,
a porta aberta.

Eu sou menos do que sou
e a fome é grande,
mas sou tudo o que há na sede
e me alimenta.

3 comentários:

Fata Morgana disse...

Bonito poema, de palavras gostosas de dizer, mas que engasgam, pelo sentido... dói. Poesia das coisas difíceis de engolir. Também só sei escrever sobre essas!

Aqui na Catedral os raios de sol rasgam as sombras como espadas. Sempre. Nunca há uma claridade francamente espalhada. Eu gosto imenso dessa preservação das coisas autênticas, que permanecem na escuridão, ou quase.

Gostava de tirar um retrato na tua Catedral. Com uma câmara bem antiga, obsoleta, de preferência, que não conhecesse senão esta linguagem feita de sombras.

Mas aqui ainda não se tiram retratos. Só se for em tela ;)

Eu sei.

Gostei imenso de ver que tens escrito outra vez. Mas estava tranquila, tinha (tenho!) a certeza de que não é o teu género deixar esta velha Catedral ficar abandonada, em ruínas.

Um beijinho grande.

(Olha, escrevi uma data de coisas!)

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Gostei imenso do poema. Um antro de contradições que são tudo, pois sem uma não existe a outra.

Beijinhos!

Gotik Raal disse...

Olá Morgana,

O tempo é ainda mais curto do que a luz, aqui na Katedraal. Encerro-me neste espaço, mas nunca o contrário, disso podes estar certa.
As tuas palavras são sempre boas de ler - pois têm sempre o rigor demente da verdade; do que não se pode evitar.
Quanto a retratos, o teu é já suspenso destes tectos altos .. encontrá-lo-ás numa câmara bem antiga, "que não conhece senão esta linguagem feita de sombras." Aqui.

Um beijo,

+

Leto of the Crows,

Sem esses contrários não existe o equilíbrio, o fulcrum, esse lugar mágico - sendo estranho que o equilíbrio esteja para sempre cativo, vítima da sua própria equidistância...
Sempre um prazer, a tua visita.

Um beijo,
Gotik