segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Bosque

No centro do bosque, esquecido em cima da sela, as árvores dançavam à sua volta. Tudo era mais veloz do que o tempo preciso para nomear as coisas. Imóvel, os braços pendendo e há muito por si esquecidos, ondulavam na brisa verde musgo.
O cavalo arremessava as crinas com movimentos erráticos do pescoço tentando afastar, também ele, aquele sentimento confuso de ter perdido os nomes, esquecido os caminhos e o sabor das plantas.
Era um mar escuro, imenso, de criaturas estranhas sem a aparência das formas, e até onde a vista alcançava nada havia, de outrora conhecido, que perdurasse.
Todas as canções se esfumavam no vento simples que silvava por entre as fendas da viseira do seu elmo. Não era Bóreas ou Zéfiro, Sirocco ou Levante. Era apenas um redemoinho de todas as coisas soltas.
Os laços haviam-se quebrado e aquilo que antes tão ciosamente guardara no cofre férreo do coração escorria agora, solto, entre as pedras.

13 comentários:

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Tanto nos confunde o "saber demasiado" como o "esquecimento". Tempestuosos mares que envolvem a mente e a despedaçam em fragmentos soltos. E muitos são incapazes de unir cada partícula que se desuniu, perdendo-se.

Sempre uma óptima leitura ^^

Um abraço!

Conversa Inútil de Roderick disse...

1ª visita.
Gostei do que vi. Voltarei.

R. disse...

É difícil manter o equilíbrio.Então quando te leio (...)

I need a lot of wine.
I know the kind of beast that I've become


*

Jo disse...

E as pedras tingiam-se de vermelho?

Como sempre, os teus escritos proporcionam viagens. :)

Beijo*

Gotik Raal disse...

Leto,

Ou de quando, nesse estraçalhar fatal que bem intuiste, o corpo permanece, apenas. Os seus sentidos muito vivos, ainda, mas já sem quem os receba. O que é da mensagem, sem destino? De que servem todos os pergaminhos do mundo, sem os olhos que os lêem... de que servem os olhos sem quem por eles veja.

Obrigado pela leitura, sempre atenta.
Abraço,
Gotik

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Roderick,

Obrigado, e Bem-Vindo à Katedraal de Gotik Raal.
E até breve, então.
Gotik

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Vertigo,

As palavras são mundos de um outro quotidiano. Nesse outro, as regras são aquelas que queremos inventar, a que nos queremos submeter, ou que queremos quebrar. Mundos onde o equilíbrio, a sua manutenção ou perdição, talvez não seja tão primordial. Quando escrevo caio livremente.

Um beijo,
Gotik

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Mariazinha,

Deste-me que pensar.
Neste bosque vi um verde musgo, húmido. O coração derramado, esse sim, fora em tempos de um vermelho espesso, palpitante. Mas agora, já que sobre as pedras fluindo disforme, todas as cores deixaram de o ser. De tudo se desprende apenas uma vaga noção de movimento. Estranha vida, a de quem fica aprisionado numa vida abandonada...

Um beijo, também.
Gotik

DarkViolet disse...

As serpentinas libertas podem esvoaçar nos seus labirintos. Fazem tocar sinos, dentro dos abismos, e já insípidos não tocam mais os recursos da existência... Rodopiam nos infernos abandonados

bat_thrash disse...

alcançar horizontes
atravessar distantes planetas
domesticar infinitas pontes.

leve e breve sentimento
indecifrável, confuso
como vento inconstante
no calor da tarde.

olhos fitos na estrada
à espera de um talvez,
ilusória esperança...

Às vezes o tempo perde-se dele mesmo e fica para trás.
O vento desfaz-se em lugares jamais pisados antes.Criaturas estranhas, mas não necessariamente nocivas se soubermos lidar com elas. Gosto de fazer amizade com monstros ou que tudo que é estranho e se move, ainda que seja apenas dentro de minha cabeça.
Ah, eu e meus comentários marados.:)
Bat Kiss.

bat_thrash disse...

Musica linda que a Vertigo enviou-te...wow!

bat_thrash disse...

PS: Não tenho certeza, mas acho que como privei meu blogue(temporariamente), as atualizações não aparecem no blogroll.

Frankie disse...

Olá :)

Criei um novo blog; coisinha pequena… Fi-lo para me distrair um pouco e desanuviar do trabalho, que tem sido muito.
São as minhas Páginas soltas coisas que vou recolhendo, escrevendo ou que me ficam na memória…
Recolhi-as porque vi nelas algo de especial, que as fez destacarem-se do emaranhado de palavras e frases de cada uma das obras.
Deixo-as por lá, agora… juntamente com algumas fotografias muito “caseirinhas”.

É possível que nenhum de vós veja nelas o que eu vi (como é possível que vejam ainda mais) … mas, se nada virem, pensem que são apenas isso: páginas soltas, que o vento arrastou consigo e agora estão espalhadas à vossa frente.
Eventualmente, gostaria de utilizar um ou outro “excerto” teu, lá no meu cantinho (com a devida referência e link para cá).
Importar-te-ias?

Dark kiss*
Frankie
http://www.paginassoltas-galeria.blogspot.com/

Gotik Raal disse...

DarkViolet,

O corpo por habitar mora, ele mesmo, na ausência.

Abraço,

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Bat Trash,

Quantos mundos teremos já cruzado, sem que nos tenha sido mostrada a passagem. Apesar da sua marca indelével.
Quanto monstros não teremos já sido, ainda que o nosso equilíbrio tenha descartado, como monstruosidade, todas as evidências. Por amizade, por amor, próprio...
Onde estávamos, quando não éramos - onde regressámos, quando deixamos de ser?
E no entanto, onde estamos é sempre o centro do Mundo.

Um beijo,
Post scriptum Obrigado pelo convite para, já aceite - e em breve a fazer bom uso dele :)

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Vertigo,

A Bat tem razão, a Nina Kinert tem sido uma hóspede ilustre desta Katedraal :)

Um beijo,

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Frankie,

Vou ficar atento a esse teu reino, também. Agrada-me o conceito de arrancar as folhas até restar apenas a seiva. Quanto à utilização de "excertos" de Gotikraal nesses termos, com certeza. Tendo lido já o que tu escreves agradeco-te então a distinção.
(Acresce dizer, a quem mais vier ler isto (e porventura se sentir tentado) que esta autorização - ainda que possa não ser única - é pessoal e intransmissível.)

Um beijo,

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A todos um obrigado especial por estas visitas que ultimamente não tenho podido retribuir - ainda que as faça sempre pelo proveito da leitura!
Mas em breve parto em viagem, de novo, desta vez para todas as vossas terras.
Beijos e Abraços!
Gotik Raal

bat_thrash disse...

Aff..não é que hoje em meu blogue chamei-te de Gotik Graal nas respostas aos comentários? LOL!
Sem querer meti-me nunca encrenca: comentava um blogue de música e ali sempre freqüentam muitos trolls. Havia um grupo deles fazendo uma guerrinha com vários administradores desses blogues. E estes passaram a não publicar mais os comentários desagradáveis. Em retaliação, este grupo(ou uma pessoa que se faz passar por várias) passou a ir nos lincados desses administradores para insultar quem freqüenta estes sítios.
Antes minha caixa de comentários era aberta. Fechei-a depois dessas visitas desagradáveis. com o passar do tempo cada vez que eu fazia um novo post havia mais insultos desse(ou desses) anônimo(s) que comentários de amigos sobre o post. Achei mais fácil privar o blogue temporiariamente.
Tu foste o primeiro a aceder o convite.
Acho que vou a um mestre reik para desobstruir esse karma que tenho de pára-raio de malucos. LOLADA!

Beijos.

Gotik Raal disse...

Bat,

Não tem problema algum, a troca do nome. Os meus pais provocaram mesmo essa confusão - uma vez que o "G" está lá, mas no primeiro nome.

Essas guerrinhas que referes são um aborrecimento .. pior, é o pasmo de constatar que existe quem não dê para mais do que isso. Mas pelo que tenho visto acho que dás bem conta dos recado :)

Beijo,
'Otik