Não há maior Terror do que as criaturas dos homens. Aqueles (seres daninhos) que escolheram viver nas margens de si mesmos; que a cada dia me impedem de alcançar os mares negros e profundos e que depois, como uma praga de anémonas, se erguem entre mim e as margens, que se fizeram para descansar.
O homem é a Praga Máxima. É a transformação dos números místicos na grosseira aritmética das hordes - dos que vomitam o caldo á visão de um campo de batalha. É o maior pecado. Aqueles que escolheram tolher o uso da alma e da inteligência do corpo, na posse de todos os sentidos embutidos, para aniquilar o que de bom ainda pudesse resistir - é por isso mesmo, e hoje, o meu adeus ao mundo dos homens.
Hoje é o dia em que cuspi no mundo, um cuspo de asco absoluto.
Serei doravante apenas um filho do Deus Maior; um de entre aqueles que, no amarfanhar extremo do sangue (e das veias, e do coração) se fingiram mortos no campo de batalha. Mas apenas pelo desejo de sobreviver para morrer antes no combate seguinte.
É uma diferença abismal: ser um guerreiro no terreiro da derrota incontornável, ou um eunuco nos vastos campos da vitória da vergonha.
E ainda assim toda a vergonha é a minha, de um dia ter sido homem.
Este é o mundo do meu corpo vivo, mas nem por isso acreditarei que existe.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
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14 comentários:
Não somos uma raça, uma espécie. Somos um Virus!
O Homem não existe, nem uma praga pode Ser. A ilusão dele existir pertence à miragem que a mente capta, logo não há luta maior que a entrega à natureza como ela o é
Será o problema do homem, ou do monstro mesquinho e odioso que se apoderou dele à nascença? Aquele que controla a sua mente fraca e o faz perecer às portas do vão e inglório triunfo sobre as áspides que se devoram por nada mais terem para devorar. Pois, na verdade, é o que ele faz, devora-se a si próprio, quando nada mais tem para devorar. E a culpa recai sobre quem? Sobre o monstro que o possuiu? Ou sobre o monstro que ele próprio é? E quem o poderá deter?
Enfim... gostei do texto ^^
Um beijinho!
O teu post, fazendo-me divagar largamente, levou-me a este post:
http://autopsiadaspalavras.blogspot.com/2009/01/alegoria-de-nietzsche.html
Saudações, Roderick, DarkViolet, Leto of the Crows e HornedWolf: singular grupo de guerreiros.
Por isso mesmo não vos respondo individualmente - nos campos de batalha somos mais do que apenas eu.
Um agradecimento sério, contudo, a todos vós - e um obrigado ao HornedWolf pela dedicatória no seu texto, que li como um primo.
O facto é que no mundo e na vida temos este capacidade de escolher ser surdos ou atentos. E - como uma Divina Justiça - a capacidade de responder a esse grito que emana das vísceras de cada um de nós é indiferente a todos os pergaminhos: indiferente àqueles que lemos, ou àqueles com que se afaga o ego e sufoca o coração e a alma.
A própria vida insiste nesta resistência. E quando vejo estes parcos sinais, mais ainda acredito nelas.
Um beijo e abraços, de
Gotik Raal
E que de nós nunca emane o nojo.
Um mundo ideal seria um mundo de crianças inocentes que apenas apreciam o melhor da vida e sinto que cada vez mais esse mundo cresçe, e as crianças são cada vez mais cedo inundadas pelos pensamentos da "praga" que nós somos...
Estou rodeado de anémonas,
aquelas anémonas que não fazem nem deixam fazer...
Abraço, belo texto.
És dono de teus acontecimentos.Nosso corpo é que é ingrato e tem tempo contado nessa jornada,porém, as palavras perpetuam-se por séculos, estas sim, são o teu legado. Habitamos sonhos por engano e por acerto, vai-se o sonho e o sentimento, fica o legado da coragem de tudo aquilo que arriscamos e vivemos, acertar ou errar não é o mais importante no cômputo final.
Viver é fácil, basta o corpo estar em plena função, mas conviver com o lado desagradável nosso, dos outros e daquilo que vemos, ouvimos e sentimos é uma aprendizado desafiador.
Há momentos em que transitar e enxergar aquilo que somos(leia-se o homem na sociedade com todos os seus vícios e virtudes) nos dá a sensação de vomitar numa escarradeira...eca!
Dark kiss.
PS: Andei um tempo sumida, e ainda bem que não li também em teu blogue que este chegou ao fim,pois das vistas que fiz, três eles continham esta mensagem.
Estava com saudades daqui, dos teus textos e de todos.
Junta-te a nós, os Ascorosos. Por alguma razão não nos queremos misturar. E no nosso espaço, quem reina somos nós...
Anémonas... :)
A pele arrepia-se ao contacto dos tentáculos desoladoramente frios e colantes.
Bateu-me fundo, este. Sempre tive a impressão de sufocar, de me afogar numa estranha multidão violentamente desagradável - que vi aqui descrita! - sempre preferi estar quieta e queda, sobretudo não dizer nada de mim, nunca. É a minha forma de estar longe dos "vastos campos da vitória da vergonha" - e acho que consegui ser eremita no meio desse caos fétido. Estar sozinha em plena praga de anémonas.
O Escabroso é tentador na sua proposta (como eu a entendi tão bem)...
Um beijo, Gotik.
a.m
Urge por isso uma certa míngua, arrancar a erva daninha. Cortar os braços, ainda que os nossos. Sobretudo os nossos, quando nos falham. Depois o resto é fácil.
Um beijo,
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Ruela,
Bate aí com a tua taça e depois vamos encostar as solas nos fundilhos dessa raça...!
Abraço!
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Bat Trash,
Tenho andado por outras demandas e assim será por mais cinquenta dias, mas quanto ao resto está descansada: a Katedraal está longe de terminada - e tenho um prazer especial em cada nova janela que se abre, em cada arco que se ergue.
Quanto aos teus pensamentos, fazem sentido. No entanto tenho para mim que há tempos para tudo; e há um tempo de banir essa convivência, e é quando a diplomacia se converte em fraqueza.
Para esse teu empenho, ao contrário, há sempre tempo e gosto.
Um beijo sombrio, então
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Escabroso,
Esse é um verdadeiro exército das luzes, operando nas sombras. E quanto a territórios é como dizes: não há bem maior do que o silêncio e a sombra, o recolhimento entre estas paredes onde únicos somos também completos.
Abraço!
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Morgana,
Pois é, eu sempre achei que estes mares eram também os teus. Sempre que te leio. Não te dou as boas-vindas ao lado negro porque sempre aqui estiveste; aliás tu és o Corvo de Batalha.
Um beijo também.
Gotik Raal
Abraços e beijos e todos estes guerreiros.
Acredites ou não, li este texto no próprio dia em que o publicaste mas, até agora, ainda não consegui arranjar as palavras para o comentar.
É um problema que tenho recorrentemente -principalmente quando os textos me tocam realmente fundo-.
Mesmo assim, hoje voltei.
E voltei para te deixar umas palavras que acho que "encaixam" bem aqui; a minha forma de ver essa praga -cada um tem a sua-.
Provavelmente irás reencontrar as palavras que te deixo lá pelo meu abismo, mais tarde ou mais cedo. Fazem parte de um texto que tenho escrito para a Morgana, mas que ainda está a "marinar" no meu caderninho, à espera de qualquer coisa.
(Sabes aquela sensação: pessoas especiais têm que ter uma dedicatória mesmo m-u-i-t-o especial?! Acho que é por aí que o texto está empancado).
Seja como for, para já, deixo-te a minha praga ;)
Sempre lhe custara qualquer convívio forçado e as ocasiões festivas em particular agigantavam-se na sua alma como um tormento, um gigante pesado e desajeitado, com uma voz que eram muitas vozes sem que, de facto, fosse voz nenhuma; um monstro feito de braços e mãos e pernas e rostos, muitos rostos sem, na verdade, ter rosto nenhum. Era essa a imagem que aquela gente assumia para ela: uma amálgama de corpos disformes e suados a rosnar e a grunhir; uma besta regada a álcool e carne vermelha, com a fenda da boca a escorrer molho e as manápulas imensas, gordurosas e imundas querendo agarrá-la...
PS: AHAHAH! Relendo só esta parte que te deixei é mesmo nojento; só agora é que me apercebi!!! -_-''
No meio do texto todo ainda "escapa" mas assim solto, ó que praga! ;)
Custou muito escrever sobre este teu texto... mas não podia deixar de o fazer porque aprecio demais as tuas palavras...
Mas o que dizer das palavras que vão tão fundo na alma e espelham uma parte de mim própria?...
Que elas me lembram o porquê de ser tantas vezes, e apenas, contemplativa, e permanecer imune nas minhas florestas?
Kisss... Gotik.
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