terça-feira, 19 de janeiro de 2010

As Flores



A pele como uma pálpebra.
Acordei. Uma estrumeira. Tudo eram detritos inertes no meu círculo próximo; e assim o eram os restos dos dois lagartos que cegos de morte velavam o meu sono.
Tentei lembrar o verde, mas tal como o azul dos céus também este se fora.
Aspirei o vento, sem nada encontrar dos meus caminhos. E pela primeira vez na vida olhei para trás, numa réstia de desejo de te ver. Estarias no cimo da torre mais alta da catedral; se estivesses. Se os meus olhos tudo isso pudessem alcançar.

De nada me importa a lama, os os rios fumegantes de dejectos, conquanto se dirijam a algum lado.
Tanto nos queixámos e contudo não há como esta paz em que todas as riquezas e misérias não cabem nas palavras.
Mas deixa-me dizer-te que mesmo uma fossa é plena da vida que no ouro nunca vinga.
Morre por isso em paz - eu serei no teu lugar. Mesmo que me arranquem os braços e o coração jamais serei outro qualquer, ou nada.
Sempre eu e tu, ainda que não te veja mais.

As flores nascem em toda a parte, em qualquer sítio. Desde que seja delas o tempo.